FEST CONTAS: um festival que planta cultura e colhe transformação no Médio Rio das Contas


É curioso como, às vezes, um evento cultural pode funcionar como semente. Pequena, aparentemente frágil, mas carregada de potencial. O FEST CONTAS, Festival Literário do Médio Rio das Contas, é exatamente isso: uma semente. Mas não qualquer uma. É uma semente de transformação, de memória, de futuro. E, como toda boa semente, precisa de um solo fértil. Ipiaú, com sua gente criativa, sua juventude ávida por voz e sua história marcada por literatura e resistência, oferece esse solo.

Mas por que falar de transformação quando se trata de um festival literário? Porque cultura é, e sempre foi, um vetor de mudança. A leitura tem o poder de desconstruir visões de mundo, de forjar pensamento crítico, de dar nome ao que, muitas vezes, é vivido de forma muda. Um festival que coloca os livros no centro das atenções não está apenas promovendo encontros entre escritores e leitores, mas ativando uma engrenagem social que afeta economia, educação e identidade.

O FEST CONTAS nasce com um propósito claro: conectar. Conectar a arte à escola, o artista ao estudante, a tradição à inovação. E esse tipo de conexão não é trivial em um território como o Médio Rio das Contas, historicamente marcado por desigualdades, mas também por uma riquíssima produção simbólica. O festival não é um evento para elite cultural — ele é, sobretudo, um espaço de pertencimento para quem faz cultura no dia a dia, com ou sem palco.

Ao homenagear Euclides Neto, o festival já diz muito sobre suas intenções. Estamos falando de um autor que descreveu o interior baiano com uma precisão que os manuais de história não ousaram. Suas narrativas são documentos vivos da vida no sertão, da luta por dignidade, da relação contraditória com o desenvolvimento que chegava “em passos tortos”. Trazer Euclides de volta ao centro da roda é também um ato de insurgência contra o apagamento cultural que o interior enfrenta.

Mas a proposta do FEST CONTAS vai além da reverência ao passado. Há um compromisso com o presente e com o porvir. Oficinas, debates, lançamentos, rodas de conversa — tudo isso não apenas como espetáculo, mas como gesto político. Incentivar a produção literária local é também incentivar o jovem a contar sua história, a ocupar espaços de fala, a entender que sua vivência tem valor estético e intelectual.

É possível que o impacto de um festival como esse não seja imediato. Como toda semente, ele exige cuidado, tempo, paciência. Mas os primeiros brotos já são visíveis: escolas se mobilizando, escritores se reunindo, editoras independentes se interessando, artistas da região trocando entre si. E mais importante: o orgulho de ser do Médio Rio das Contas começando a ser narrado por quem é daqui.

O FEST CONTAS não é só sobre livros. É sobre visibilidade, dignidade e criação de sentido. É sobre fazer da literatura uma ferramenta de reapropriação da própria história. E se depender de quem está organizando e participando, esse festival será, mais do que um evento, um movimento.